Helena Costa, empreendedorismo no feminino
A Sementinha, na edição de março a julho de 2013, contou com a colaboração, na secção «Pontes», da treinadora Helena Costa.
Num momento em que é notícia, já que é a primeira mulher a treinar, na próxima temporada, uma equipa profissional francesa do escalão secundário de uma das principais ligas europeias, ou seja, a equipa Clermont Foot 63, parece-nos pertinente publicar, novamente, o seu texto.
Professora Sónia Capela Pisco
Helena Costa
Empreendedorismo no feminino
Helena Costa, uma mulher com um espírito empreendedor que faz sucesso no futebol, dá-nos o seu testemunho, provando que «querer é poder».
O meu nome é Helena Costa e nasci há 35 anos em Lisboa, mas sempre vivi em Alhandra. Atualmente, sou selecionadora nacional de futebol feminino do Irão.
A minha paixão pelo futebol começou cedo, quando era ainda criança e passava os dias a jogar futebol, nas ruas da Marisol, na margem sul, onde passava as férias de Verão. Foi aqui o meu despertar para o desporto mais popular do mundo.
Licenciei-me em Educação Física e, ainda no final da licenciatura, comecei a trabalhar no futebol de formação do Sport Lisboa e Benfica, onde estive 12 anos, período em que conjugava o futebol com a profissão de professora de Educação Física. Treinei, também, futebol feminino em Portugal, onde consegui com as minhas equipas, 1º de Dezembro e Odivelas, ser campeã nacional das 1ª e da 2ª divisões e disputar, com o 1º de Dezembro, as competições europeias de futebol feminino. Fui ainda observadora da equipa profissional sénior masculina do Celtic de Glasgow, da Escócia.
Desde os primeiros anos de experiência com o «jogar à bola», sonhava que, um dia, seria profissional de futebol, o que aconteceu alguns anos mais tarde, em 2010, com o convite para treinar a selecção nacional feminina de futebol do Qatar, país do Médio Oriente (2010 a 2012). Esta última época desportiva (2012/2013), fui convidada para mais um desafio, o mesmo cargo mas noutro país, o Irão. Assim, Qatar e Irão foram enormes experiências profissionais e, a nível pessoal, muito enriquecedoras, pelo contraste social e cultural com o nosso país. Um mundo de aventuras e peripécias esperava-me quando cheguei a Doha e a Teerão. No Qatar, as diferenças religiosas. É um país muçulmano, e mulheres a jogar futebol é algo novo e nem sempre bem visto pelas famílias e pela sociedade. Para vos deixar alguns exemplos, as jogadoras são obrigadas a jogar com o cabelo, braços e pernas cobertos, muitas vezes com 45 graus de temperatura. Também no Qatar, a melhor jogadora da equipa estava proibida pelo pai de representar a equipa nacional (pai que é comentador de futebol na Al Jazzera, maior canal de televisão do país). Assim, durante os jogos, esta jogadora não cantava o hino nacional no início da partida, porque não podia ser fotografada ou aparecer na televisão e, mesmo durante o jogo, estava com essa preocupação e alertava-me caso visse algum fotógrafo com a objetiva apontada na sua direção. No fim, tudo correu bem, esta jogadora marcou muitos e importantes golos e conseguimos vitórias históricas.
No Irão, eu própria me deparei com as dificuldades a que as mulheres estão sujeitas nestes países. Tive que usar o cabelo coberto, sempre que estava em público. Algo novo, mas dizia eu há anos, que seria profissional de futebol, nem que para isso tivesse de usar burka!