Discurso imaginário de José Relvas da varanda da Câmara de Lisboa, no dia 5 de Outubro de 1910

Desta varanda da Câmara Municipal de Lisboa, quero anunciar, em nome do Partido Republicano Português, a vitória das forças revolucionárias e a formação de um novo Governo. Findou a monarquia, o rei vencido abandonou o país, as autoridades monárquicas serão destituídas. Um novo regime nasceu hoje, portugueses. É a República!

Viva a República!

Viva Portugal!

Em breve vos anunciaremos a composição do novo Governo. Com ele será restabelecida a ordem, anunciada nos actos com o que povo de Lisboa já celebra a vitória: com generosidade e respeito para com os derrotados, com júbilo e confiança na República e no futuro de Portugal.

Este é um momento histórico. Uma mudança sem precedentes, em que o povo, cansado de séculos de dominação, tomou em mãos o seu destino. Hoje enterrámos um regime de falsidade, de proveito de alguns, um regime iníquo e manchado pela tirania, e começamos a erguer um regime da transparência e da honradez, um regime da democracia. Um regime patriótico.

A revolução não teria sido necessária se a Monarquia tivesse sabido velar pelo bem comum, se tivesse garantido a independência da Pátria, se tivesse defendido o bom nome de Portugal e dos portugueses junto das outras nações.

A República que hoje começamos a construir há-de realizar a esperança que animou os revolucionários nas ruas e praças de Lisboa e do resto do País. Esperança no renascimento dos nossos campos e das nossas fábricas, na vitalidade dos nossos municípios, na força das nossas instituições representativas. Esperança no vigor libertador das nossas escolas, da nossa ciência e da nossa cultura. Esperança na competência, retidão moral, patriotismo e espírito de serviço público dos nossos governantes e representantes políticos. Esperança, em suma, no ressurgimento da pátria e na dignificação dos portugueses.

Portugueses,
A República é de todos. Todos são responsáveis pelos seus êxitos ou pelos seus fracassos. Por isso, nesta hora de alegria, em que dos nossos corações brotam os mais nobres sentimentos, é justo pedir a todos vigilância, colaboração, generosidade. A vigilância, colaboração e generosidade tão abundantemente evidenciadas nestes dias em Lisboa. Cada um de vós é, a partir de agora, um cidadão e não um súbdito. Tem direitos e tem deveres. A Lei, assente no princípio da igualdade, há-de garantir os vossos direitos. Ninguém, na República, está acima da lei.
Mas agora quero também apelar ao vosso sentido do dever cívico. É com ele e por ele que faremos uma República forte, admirada e respeitada.

Portugal conta na sua história secular com momentos em que um grande desígnio nacional pode unir o povo e os governantes numa epopeia de fé e coragem. Estamos agora a atravessar de novo um desses desafios que a todos galvaniza.
Portugueses,
Vou agora hastear nesta varanda tão simbólica uma bandeira da República.
Nela podeis ver o verde dos nossos campos e o vermelho do nosso trabalho, o verde da nossa esperança e o vermelho da nossa revolução, o verde dos nossos ideais e o vermelho das nossas acções. Sobre ele, as nossas mãos escreveram: “esta é a ditosa pátria minha amada”.

Viva a República!
Viva a República!
Viva Portugal!
Viva Portugal!